quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A cega e injusta propaganda anti-sedevacantista (parte 1 de 2)


Já sei por longa experiência que, cada vez que este blog publica algum artigo que traz verdades mais amargas, algumas pessoas deixam de segui-lo. Depois vêm outros e compensam os que só queriam água com açúcar. Pois bem, este é o artigo que, prevejo, fará com que eu perca alguns falsos amigos. Fico triste pelos que preferem continuar na caverna de Platão, sem jamais ver a luz do dia. Mas, no Juízo final, Cristo vai me cobrar a defesa da Igreja, não o número de seguidores do blog.

Esclarecimento prévio

A Tradição da Igreja Católica é realmente algo maravilhoso. Quem assistiu a uma Missa Tridentina sabe disso, e quem não tem meios de assisti-la anseia para ter uma celebração por perto. Um dos grandes males, no entanto, é que vários grupo antagônicos divulgam a Tradição a seu modo. Quando vemos os bons frutos de um grupo, queremos logo apoiá-lo. No entanto, com o tempo vamos discernindo melhor as coisas e vemos que alguns deles só tem um verniz tradicional muito superficial. Outros, no entanto, pareciam defender tão bem a Fé que pareciam inabaláveis. Tal era o caso da FSSPX, até que os eventos que sucederam desde o ano de 2012, começando pela publicação da carta de Dom Fellay aos outros três bispos, mostraram que a árvore estava oca. Os discursos bonitos que faziam contra os modernistas afundaram como uma pedra na água. Depois veio Dom Williamson prometendo salvar a obra, mas acabando por falar besteiras ainda piores do que as que dizia Dom Fellay.

É importante deixar claro que não é apenas por decepção com um grupo que devemos passar a combater o que eles diziam. Isto seria de uma tremenda mesquinhez e orgulho que não poderiam não ser pecado mortal. Uma pessoa ou um grupo de pessoas pode agir de maneira errada ainda pregando doutrinas corretas, agindo em desacordo com aquilo que pregam. Mas não é esta a questão que apresento aqui. O que acontece é que, de tanto agir de forma imoral, eles perderam a imagem de solidez e confiança que tinham construído. E, destruída nossa admiração por eles, passamos a questionar aquelas coisas que nos diziam e que nós aceitávamos sem questionar. E passamos a estudar mais profundamente certos assuntos nos quais eles nos haviam doutrinado. E, somente então, chegamos à conclusão de que parte daquilo que diziam estava errado. Portanto, não estamos combatendo o que eles dizem por causa do que eles fizeram contra nós, como uma forma de vingança infantil e orgulhosa. Estamos combatendo porque o que dizem está errado. Chegamos a esta conclusão tardiamente, porque confiávamos cegamente neles e, somente depois de quebrada a confiança, é que nos dispusemos a questionar o que diziam e chegamos à conclusão de que eles estão errados.

Antes tarde que nunca. Agora é hora de acertar os rumos. E também de fazer o mea culpa por ter me deixado influenciar pelas atitudes que a seguir vou expor e contestar.

Objetivo do presente artigo

Não estou declarando guerra aos não-sedevacantistas. Mesmo no caso daqueles cujas obras são citadas, não parto do princípio que estejam agindo de má fé. Embora eu tenha convicções diversas para cada caso, mas isto não importa em nada para a conclusão do presente artigo.

O que se pretende demonstrar é apenas que existe uma ferrenha propaganda anti-sedevacantista. Não estamos preocupados em determinar quem está agindo de boa ou de má fé, quem está enganando ou que está sendo enganado. O único objetivo é demonstrar que existe sim uma propaganda difamatória contra o sedevacantismo, e na qual muitas pessoas acabam acreditando, e dentre as quais eu me incluía e por isso posso tratar do assunto com conhecimento de causa. Não é objetivo deste artigo apresentar uma completa exposição do sedevacantismo, nem refutar todas as objeções. O objetivo é bem mais modesto: apenas mostrar que a propaganda criou um medo infundado ao sedevacantismo e ajudar os católicos  a perder este medo.

Não inclui nenhuma citação dos neo-conservadores, mas a eles se aplica o mesmo que está dito sobre os tradicionalistas de linha média. A defesa que eles fazem dos “papas” conciliares os torna muito mais inimigos do sedevacantismo do que os tradicionalistas de linha média, e não é difícil encontrar artigos anti-sedevacantistas em seus sites. Mesmo assim, resolvi empregar meu tempo apenas com aqueles mais próximos, provando que mesmo eles têm ideias equivocadas sobre o sedevacantismo. Tudo o que se aplica a eles nesta matéria, com maior razão se aplica aos neo-conservadores.
Nem todos os autores anti-sedevacantistas serão citados. Mas o número deles, e principalmente, o papel de liderança que eles exercem, já serão mais que suficientes para demonstrar a existência dessa propaganda. Outros artigos serão escritos futuramente para tratar outros casos que estejam abrangidos aqui.

Era necessário escrever este artigo?

Sim. Primeiro, por amor à verdade. Errar por ignorância é humano. Permanecer no erro é diabólico. Se queremos a glória de Deus, o bem da Igreja e a salvação das almas, é necessário buscar sempre a verdade.

Depois, para me redimir de ter dado ouvidos e colaborado com aqueles que a partir de agora refuto. Não foi por maldade e sim por credulidade. Mas, de qualquer forma, cheguei a ceder, acreditando no que diziam. Eles se apresentavam como grandes defensores da Fé, e até dizem muitas verdades. Mas quando chegam no ponto crucial, desviam e não acertam o alvo.

Finalmente, para ajudar a destruir o medo irracional que foi criado contra o sedevacantismo. Muitas pessoas não chegam nem a ouvir o que os sedevacantistas têm a dizer por conta deste medo inculcado. É um verdadeiro bloqueio mental que necessita ser desfeito.

Vamos às provas

Começamos por um site que apóia Dom Williamson, onde o autor se lamenta de que as atitudes de Bergoglio fomentem o Sedevacantismo. O blog foi apagado, mas nós salvamos uma cópia impressa de todos os artigos citados:


A imagem negativa que eles passam do Sedevacantismo é clara, lamentando-se que os “frutos de Francisco” sejam o próspero seminário do bispo Sanborn na Flórida, que é somente UM dos seminários sedevacantistas (o destaque é deles), uma ordem de freiras também ligada ao mesmo bispo, etc. Para fechar o artigo, eles se referem a Bergoglio dizendo literalmente “Obrigado, Santo Padre. Juliano o Apóstata não teria feito pior pela Igreja”. Segundo eles, portanto, os “frutos de Francisco” a favor do Sedevacantismo seriam piores para a Igreja do que o imperador romano que tentou restaurar a cultura pagã. É evidente demais a propaganda anti-sedevacantista, de modo que dispensa comentários.

Orgulho de se declarar anti-sedevacantista

Alguns sites fazem questão de exprimir graficamente o seu repúdio ao sedevacantismo, estampando a imagem abaixo:
blog-anti-sedevacante-5

Um desses blogs é o “Castigat ridendo mores”, que tem um especial pendor a ofender os sedevacantistas da Radio Cristiandad.

Outros blogs tem marcadores só para destacar seus artigos anti-sedevacantistas:

marcador-antisedevacante

Atentem para a quantidade de artigos. Há no site mais artigos combatendo o sedevacantismo (21) do que tratando de temas como a Missa (4), Dom Marcel Lefebvre (13), Novus Ordo (15) ou o acordo com roma (16).

Ofensas gratuitas

Vejamos um exemplo de ofensas gratuitas. Em um determinado blog, um sedevacantista tentava argumentar que os “papas” conciliares tentaram impor o Vaticano II como obrigatório, e recebeu como resposta a seguinte série de ofensas, partindo de dois leigos tradicionalistas:

Infelizmente, você não reconhece mais o nosso PAPA, se tornando um sedevacantista.
Como queres fazer citações dos PAPAS, que nem mesmo o reconhece.
‘Gato por lebre’, Sandro?
Ou é você que quer cobrir o gato com pele de lebre, devido a sua obsessão pelo sedevacantismo e a absoluta rejeição ao SUMO PONTIFICE.
Você está fazendo um grande desserviço a Igreja, está se colocando ao lado dos PROTESTANTES E CISMATICOS E OS MODERNISTA QUE APOIAM O ‘DOGMA’ DO CONCILIO VAT. II.
8 de julho de 2010 13:03

Está cravado na sua mente a ‘doutrina sedevacantista’, só por um milagre você escapa disso.
Poupamos as criticas aos sedevacantistas devido a pequena e pouca influência que tem dentro da Igreja, comparando com os restantes dos modernistas.
Mas agora sei que devemos, atingir o sedevacantismo com mesmo peso que tratamos os neo conservadores e os restantes dos modernistas, ambos são idênticos até na maneira de tratar Conc. Vat. II.
Um dia quando você estiver a reta intenção de conhecer a Verdade, poderemos iniciar, mas o pior que você já conheceu a verdade e jogou tudo no lixo…É uma pena Sandro, então poderei dizer o que? Reveja seus conceitos, que nunca será tarde demais…
8 de julho de 2010 16:36

E o que se quer dizer que os padres da FSSPX são “tão católicos” como os sedevacantistas? Certamente há padres contrários a essa burrice do sedevacantismo e apóiam Dom Fellay e Bento XVI. Dizer que a FSSPX é “tão católica” quanto os sedevacantistas é uma ofensa muito grande para os membros dela que não são. (…)
Ora, ambos os extremos (sedevacantismo e modernismo, como panteísmo e gnose) combatem o Papa. Ora, combater a autoridade papal é o objetivo da Maçonaria. Logo…
Queira Deus que Dom Fellay e Bento XVI entrem em acordo razoável e corente à fé católica, e expulsem esses coitadinhos sedevacantistas.
10 de julho de 2010 14:08

Da nojo de ler seus argumentos, e desse grupo maldito em que você pertence SEDEVACANTISMO.
O desejo e as más interpretações que vocês têm, de que os heróis da Fé tinha um pé ou era sedevacantista que da mais nojo.
E ainda vem falar de união. JAMAIS, QUERO DISTÂNCIA!
Pois vocês são como os modernistas. A única relação que quero ter com este grupo é a ridicularizarão publica para que ninguém se envolva com está praga do sedevacantismo.
E por favor, não me dirija mais a palavra. É cansativo fica lendo seus comentários, que parece um papagaio.
12 de julho de 2010 13:45

Nem grifei o texto, senão teria que grifá-lo quase todo, devido à quantidade de ofensas gratuitas, todas elas contidas nos comentários de um único artigo. As palavras são tão claras que novamente nos abstemos de fazer qualquer comentário. Elas já demonstram de forma inequívoca a estupidez, a falta de caridade e a aversão que certos tradicionalistas pregam contra o Sedevacantismo.

Montfort

A Associação Cultural Montfort é uma das mais conhecidas do meio tradicionalista brasileiro. Muitos católicos, inclusive eu, conheceram a Tradição por meio do site deles. O sentimento de gratidão, junto à admiração pela parcela de verdade que eles ensinam, levaram muitos de nós a apoiar tal associação. Alguns com mais empolgação, outros com menos, mas quase todos tínhamos grande respeito por eles porque os tínhamos como defensores da Fé. E por isso acreditávamos firmemente em tudo o que eles diziam. No meu caso, isto mudou drasticamente no ano de 2011, quando a tal associação passou a atacar ferozmente a FSSPX por causa de um padre que nela entrou depois de sair de uma diocese modernista. Incrível! A Montfort preferia ver o padre na diocese modernista a vê-lo na FSSPX. E o pior foram os sofismas ridículos que utilizaram para denegrir a FSSPX (que na ocasião agia corretamente).

Mas não é só contra a FSSPX que a Montfort faz péssimo uso desta influência toda que ela possui. Contra o sedevacantismo as acusações são muito piores e muito mais injustas:

“O sedevacantismo é condenável sempre, porque necessariamente todo sedevacantista é cismático, se não herege. Não há poder na terra que possa declarar que um Papa perdeu a autoridade. Se houvesse um poder assim, as chaves da Igreja estariam, não com Pedro, mas com esse poder. Por isso, o conciliarismo — tese que afirma a superioridade do Concílio sobre o Papa — é condenado pela Igreja.” ( Orlando Fedelli )

Cisma é negar-se a estar em comunhão com um verdadeiro papa. Não existe a menor possibilidade de se aplicar a acusação de cisma ao caso do Sedevacantismo, pois este não considera a hipótese de um verdadeiro papa e sim de um antipapa. O sedevacantista não deseja estar em cisma com o papa. O que ele deseja é não estar em comunhão com um antipapa. São duas situações absolutamente distintas, não há o menor risco de confundi-las.

Se não bastam nossas palavras, vamos ler o que dizem os teólogos:

3.1. “Não podem, afinal, ser contados entre os cismáticos aqueles que recusam obedecer ao Romano Pontífice por considerarem a pessoa dele digna de suspeita ou duvidosamente eleita…” (Wernz-Vidal, Ius Canonicum, vol. vii, n. 398).

3.2. “Não há cisma se … se recusa a obediência na medida em que … se suspeita da pessoa do Papa ou da validade de sua eleição…” (Pe. Ignatius Szal, Communication of Catholics with Schismatics, Catholic University of America, 1948, p. 2).

3.3. “…não é cismático quem recusa submissão ao Pontífice por ter dúvidas prováveis concernentes à legitimidade da eleição dele ou do poder dele…” (De Lugo, Disp., De Virt. Fid. Div., disp xxv, sect iii, nn. 35-8).

Contra citações tão claras, vindas de pessoas que, diferente de Orlando Fedeli, são verdadeiros teólogos, que faz a Montfort? Simples, denigre a imagem daqueles que divulgam tais textos:

Essa posição [sedevacantista], de tão absurda e ousada, causa assombro e perplexidade, sobretudo porque proposta por indivíduos que tentam se passar por fiéis católicos e defensores da verdade. E, ademais, os poucos que no Brasil defendem esse extremismo são pessoas que se pretendem donas de indiscutíveis conhecimentos históricos e teológicos, normalmente adquiridos na internet. Com a erudição de quem “navegou” muito, apóiam-se em argumentos que, à primeira vista, podem enganar algum incauto.

Faz alguma diferença se alguém aprendeu lendo algo impresso em um papel ou de forma digital na Internet? Claro que não. Mas como eles não têm meios de refutar os argumentos, buscam desmerecer quem os divulga.

E o que dizer de outros teólogos que defendem a perda do pontificado ipso facto pelo pecado de heresia? Teólogos com o porte até de São Roberto Bellarmino, cardeal, santo e doutor da Igreja, que estudou profundamente o assunto. Seriam também eles cismáticos e hereges?

Um outro exemplo do ranço da Montfort contra o Sedevacantismo pode ser lido no seguinte artigo que eles traduziram a partir do site do distrito francês da FSSPX (os destaques são nossos):

[Primeiro o padre da FSSPX acusa os sedevacantistas de serem doentes mentais:]
Mas em certas ocasiões é preciso tocar com a mão, o problema real de Sedevacantismo. Verifica-se muitas vezes que esse problema é mais de ordem clínica do que teológica. Não é minha intenção ofender ninguém com uma princadeira mal colocada, mas se alguém está psicologicamente doente (por exemplo, preocupações excessivas e recorrentes sobre o Papa), é preciso saber que a cura é possível, mas não certamente pegando um grande número de citações de Teologia (…)
[Depois de sofismar dizendo que o sedevacantimos favorece os modernistas, acusa levianamente “muitos” sedevacantistas de serem inimigos infiltrados:]
Em concreto, na prática, a tática sedevacantista favorece cem por cento as forças modernistas. Então, quem é seu chefe? Para quem eles verdadeiramente trabalham? Vamos fazer a pergunta, concretamente que fazem eles? Eles procuram aniquilar aqueles que os modernistas querem aniquilar, apenas o método deles é diferente. Nenhuma surpresa haverá se descobrirmos que muitos desses intransigentes são infiltrados do clã adversário, que sob a máscara da fidelidade à doutrina de sempre agem de mãos dadas com o Partido Liberal, que ainda prevalece no seio da Igreja.

Falta de caridade é o mínimo que se pode dizer de tudo o que lemos acima, extraído do site da Montfort, mas escrito por um padre da FSSPX. E demonstram claramente que existe uma forte propaganda anti-sedevacantisma.

Pe. Pedro Fleischmann

Pedro Fleischmann, mais conhecido como Dom Lourenço Fleischmann, foi uma das pessoas que eu mais admirava e que mais me influenciavam. Mais adiante mostrarei o que me fez mudar de opinião sobre ele. Vejamos primeiro um artigo dele contra o sedevacantismo:


Ele começa apresentando uma desfiguração do sedevacantismo. Como se fosse necessário provar a heresia formal do papa para então poder depô-lo. Em primeiro lugar, os teólogos que tratam da perda de ofício pontíficio falam em heresia pública, e não necessariamente formal, não necessitando de um processo de julgamento. Depois, não se trata de julgar e depor o papa, e sim de abdicação do mesmo por ter se tornado herege público. Para refutar uma teoria, é necessário expô-la corretamente, e não criar uma caricatura. Mas não vamos nos ater nos argumentos a favor do sedevacantismo, pois o objetivo deste artigo inicial é apenas demonstrar que existe uma propaganda anti-sedevacantista.

Vamos ver, então, quais são os termos com os quais o autor do artigo se dirige aos sedevacantistas:

Os sedevacantistas são a gente mais orgulhosa que eu conheço, pois são movidos pela cegueira espiritual. Herdeiros daquele primeiro orgulho que elevou o espírito de Eva a ouvir uma palavrinha mágica, e querer mudar o mundo! Sereis como deuses! Quiseram ser mais do que eram na realidade e saíram empurrando a tudo e a todos que estavam na frente, ou seja, precipitaram simplesmente toda a humanidade no pecado! Pois os sedevacantistas são assim. Cegos para a realidade, empurram todos que se encontram à frente e saem por aí, aos bandos, dizendo que só eles são verdadeiros católicos, só eles encontraram a solução da crise da Igreja.

(…) Como toda obra fundada na opinião e movida pelo amor-próprio, foram brigando uns com os outros, em puro espírito sectário, dividindo-se em pequenos grupos. No meio do turbilhão, o demônio suscitou um bispo vietnamita, que saiu pelo mundo sagrando bispos, inclusive nas seitas com falsos papas, como Palmar de Tróia. A falta de vergonha na cara é tamanha que alguns destes bispos, hoje, alegam o estado de necessidade para chamar leigos casados para serem ordenados e sagrados.”

O autor, que critica os sedevantistas por “julgarem o papa”, consegue julgar os sedevacantistas, conhecendo-lhes o íntimo ao ponto de poder afirmar que eles agem por amor-próprio, que são as pessoas mais orgulhosas e que são movidos pela cegueira espiritual. E sabe até que o bispo Thuc foi movido pelo demônio! Claro, sendo sedevacantista…

“Mas a diferença entre a nossa posição e a dos sedevacantistas é enorme. Mons. Lefebvre sempre agiu dentro da norma católica, baseado na doutrina e na lei canônica. O estado de necessidade, para a Fraternidade, é razão para ela agir de modo forte, mas segundo o Direito: ordenação de jovens em plena condição de serem ordenados, segundo o Direito Canônico. A própria sagração dos bispos, em 1988, para quatro padres já experimentados na doutrina e sabedoria, e após esgotar todos os meios para obter de Roma as autorizações necessárias. Do lado dos sedevacantistas, vendo que conseguem mais adeptos entre leigos imprudentes e exagerados, não hesitam em subverter as bases do direito para alcançar seus objetivos. Querem agora formar um clero de velhos avôs de báculo e mitra. É patético.”

A fundamentação do sedevacantismo é muito mais sólida que a do tradicionalismo sedeplenista. Os que reconhecem os hereges como verdadeiros papas se baseiam em um genérico estado de necessidade a fim de continuar ordenando bispos e conferindo sacramentos contra a vontade do suposto Sumo Pontífice. Os sedevacantistas não agem fora da norma como falsamente acusa Pedro Fleischmann. Muito pelo contrário. Suas bases são muito mais sólidas e concretas do que o genérico estado de necessidade. Há vários teólogos que defendem a perda do mandato ipso facto se um papa cair em heresia pública, há bulas como a Cum ex Apostolatus Officio, há o código de direito canônico, tudo isto corroborando a hipótese sedevacantista. Acusar os sedevacantistas de serem selvagens fora da lei é uma propaganda imunda, um ato profundamente imoral de difamação.

Os “quatro padres já experimentados na doutrina e sabedoria” elogiados pelo artigo brigaram publicamente, desde o ano de 2012, com acusações mútuas, sendo que um deles é hoje duramente criticado pelo mesmo autor do artigo, e defendido pelo blog; os outros três são criticados pelo blog onde podemos ler o artigo, e elogiado pelo autor. Todos os quatro deram escândalos contra a Fé e fizeram exatamente o que Fleischmann imputava aos sedevacantistas: gerar confusão e divisão. Além disso, o blog do qual foi extraído o artigo, Spem in Alium, defende um dos quatro bispos que tem ordenado bispos velhos, sem mandato apostólico, apesar de reconhecer Bergoglio como verdadeiro papa, e sem fazer absolutamente nenhum esforço para conseguir a aprovação de “sua santidade”. Ou seja, as críticas dos dois parágrafos que estamos analisando se encaixam perfeitamente naquele bispo que o blog defende, e parcialmente nos outros três que o autor do artigo defende. Mas que importa tudo isto? Importa para eles que o alvo do artigo são os malvados sedevacantistas.

A fraqueza de argumentação do autor continua sendo substituída por adjetivos depreciativos do adversário:

“Pois é a essa gente que alguns dos nossos resolveram se ligar. Jovens guiados por velhos inescrupulosos, cegos e imprudentes. Jovens que agem hoje como aqueles seminaristas traidores, que ferem compromissos assumidos diante do padre, que tentam aliciar pessoas à sua volta, arrogantes e orgulhosos. Que fique aqui a denúncia: se nossos leitores, fiéis, amigos, receberem propostas de listas de e-mails, blogs, orkut etc para discutir a matéria, não aceitem. Eles não querem discutir, mas tão somente manipular as consciências com textos antigos dos papas que, lidos de modo isolado, parecem lhes dar razão.”

As citações a favor do Sedevacantistmo não estão fora de contexto. Seria engraçado ver Fleischmann conseguir um contexto no qual as citações queiram dizer algo diferente da tese sedevacantista, ou seja, que o papa perde ipso facto o pontificado caso caia em heresia pública. Seria tanto malabarismo que ele nem tentou. Simplesmente quis afastar as pessoas de sequer conhecerem o sedevacantismo. Aliás, ficou bem claro, pela frase dele, o quanto eles combatem o sedevacantismo. O bloqueio mental de que falamos existe por causa de pessoas como Fleischmann, que assustam os católicos contra o sedevacantismo ao ponto de eles não poderem nem sequer ler os sites sedevacantistas. Como se fosse uma doutrina perniciosa que deveria estar no Index.

Acontece que não apenas citações isoladas. São Roberto Bellarmino escreveu um livro inteiro para tratar da questão do Sumo Pontífice e concluiu que haveria perda ipso facto em caso de heresia pública. Isso Pedro Fleischmann omite em seu texto. Ele acusa os sedevacantistas de serem exploradores de jovens incautos. O que ele diria de São Roberto Bellarmino?

Antes que alguém tente colocar uma objeção ao que foi dito, eu mesmo irei respondê-la. Poderiam dizer que a linguagem enérgica faz parte do estilo do autor, e não seriam os sedevacantistas vítimas especiais dele, não sendo portanto válido utilizá-lo para mostrar que há uma propaganda anti-sedevacantista.

A esta objeção, respondemos que sim, é verdade que o autor utiliza esta linguagem, e até pior contra outras pessoas. Mas, ao utilizá-la contra os sedevacantistas, ao verificarmos que ela é injusta, fica provado que o autor promove sim um propaganda injusta contra os sedevacantistas, embora estes não sejam os únicos alvos.

Nunca alguém teve comigo um conceito tão alto para depois cair tão baixo quanto Pedro Fleischmann. As palavras dele pareciam tão enérgicas, tão seguras, mas quando chegou a confusão do acordismo, ele traiu miseravelmente a nossa confiança com o artigo “A escandalosa vinda de Dom Williamson ao Brasil”, o qual já tivemos a oportunidade de refutar e de demonstrar que ele não tinha razão nenhuma em suas críticas. Quem quiser conhecer a refutação, pode ler neste blog o texto “E a Terra não parou“. Vejamos a seguir algumas ofensas por ele utilizadas contra aqueles que discordavam da política de Dom Fellay:

Mas aqui, entre nós, surgiu um tragicômico Exército de Brancaleone, para salvar a Igreja. (…)
Talvez tenha sido nesse ponto que o diabo encontrou o nervo exposto do orgulho, e colocou no coração de alguns padres a revolta contra as legítimas ordens do Superior Geral ou dos Superiores de Distrito.(…)
Porém, para ser contra o acordo não é preciso sair batendo e chutando, como fazem os Cardozo, Chazal e Dom Tomás. Eles não são representantes de nadaapenas cegos furiosos que encontraram um meio de descarregar seus rancores. (…)
Mas o ódio já dominava os corações dos poucos, e nesse caso, nenhum argumento serviria. (…)
A terceira condição foi criticada por alguns corvos que gralharam nas soleiras e umbrais: “só um?! Porque só um?!” Não percebem as negras e soturnas aves de rapina que não é a quantidade que importa, mas o princípio admitido. (…)
Francamente, o pior cego é o que não quer ver. A malícia do texto é patente! (…)
É preciso gritar pelos telhados a essas “estrelas novas” em explosão e, sem falsos romantismos, perguntar aos astros fugitivos: quando, ó “buracos negros” (…)
Não percebem que essas condições significam exatamente o que os senhores ficam repetindo como papagaios, que só poderá haver acordo com a conversão das autoridades romanas? A realidade está na ponta dos seus narizes, mas os senhores não quiseram ver. (…)
Essas pessoas fecharam a cabeça, não aceitam mais encarar a realidade, a tal ponto que deixam a impressão de que preferiam que a Fraternidade tivesse caído, para poder afagar, sorridentes, o orgulho inflamado. Com isso, a suposta grande defesa da fé que eles pretendem apresentar aos leitores lhes serve de manto para esconder seus rancores e desobediências. (…)
Quando criticam o texto do Capítulo, são obrigados a manipular as palavras para que caibam na estreiteza de suas mentes (…)

Ser enérgico contra o erro é uma coisa. Ser estúpido é outra bem diferente. Utilizar argumentos corretos e chegar a uma conclusão, mesmo que desfavorável, é fazer um estudo sério, é fazer apologética. Deixar os argumentos e os fatos de lado e passar para as ofensas pessoais não pode ser chamado de apologética. Pedro Fleischmann não poupa adjetivos negativos e irônicos contra aqueles que dele discordam, nem se furta a qualificar-lhes as intenções, a ler o íntimo deles e afirmar que são movidos por ódio, frustração, orgulho, etc. Isso não é linguagem enérgica contra o erro, mas sim falta de caridade contra as pessoas. Não é mero estilo do autor, e sim, na falta de argumentos, tentativa de denegrir o adversário. Os sedevacantistas podem não ser seus únicos alvos, mas também estão entre eles. E é isto que pretendemos demonstrar com o presente artigo.

Pequeno catecismo sobre o sedevacantismo

A primeira coisa que se percebe ao ler o “catecismo” escrito pelos dominicanos de Avrillé contra o sedevancantismo é o partidarismo, pois, logo no começo do texto, apresentam a comparação com o estreito pelo qual o navio deve passar. O estreito seria o tradicionalismo sedeplenista, o caminho seguro. De cada lado haveria rochas que fariam o navio afundar caso colidisse contra elas: uma seria o liberalismo e outra o sedevacantismo. Ou seja, logo no início do texto eles já induzem o leitor a enxergar o sedevacantismo como um obstáculo a evitar. Onde está a neutralidade que um estudo sério deveria ter? A verdade é que não se trata de um estudo e sim de mais uma obra de propaganda.

Como não poderia ser diferente, em sua conclusão, o “catecismo” aponta o sedevacantismo como uma imprudência e utiliza o nome de Dom Lefbvre que proibiu os sacerdotes da FSSPX de professar o sedevacantismo. Isto ele faz depois de apresentar diversos “argumentos” contra o sedevacantismo.

Mas, de que valem estes tais argumentos? Há uma refutação muito boa deste “catecismo” de Avrillé, que pode ser lido em:

Apenas sintetizando o artigo, ele demonstra que o autor do “catecismo” falsificou o argumento de três autoridades por ele citadas:
  1. acrescentou a palavra “formal” à citação de São Roberto Belarmino;
  2. fez uma suposta citação do Pe. Billuart, mas as palavras atribuídas ao padre não constam do seu livro citado como referência;
  3. omitiu a palavra “secreto” na citação do Pe. Garrigou-Lagrange.
Quem ler e entender o artigo indicado logo acima, percebe claramente que a conclusão de que os sedevacantistas são imprudentes é mais um jogo de propaganda do que verdadeira conclusão de um estudo sério. Porque um artigo que falsifica citações não tem seriedade nenhuma. As palavras do último parágrafo são mera repetição do que já estava dito na introdução, e não uma conclusão lógica de um trabalho de investigação corretamente conduzido.

Outras frases feitas

A passagem entre as rochas, citada pelos Dominicanos de Avrillé, é uma das várias ideias prontas contra o sedevacantismo vendidas por certos tradicionalistas de linha média. Existem várias outras:

“Não devemos tombar nem para a direita, nem para a esquerda”. Esta está bem na linha da anterior, como se a posição reconhecer e resistir fosse a correta e qualquer desvio dela fosse um erro, uma queda.

“Cuidado para não cair no sedevacantismo!” Principalmente em épocas como esta, em que Dom Fellay busca aproximação com o Vaticano, os que se atravem a criticar sua atitude às vezes recebem esta “advertência” como forma de intimidação.

“Foi acusado de ser sedevacantista!”, como se fosse um pecado ser sedevacantista. Isso demonstra como as pessoas realmente acabam sendo intimidadas pela propaganda.

“Imagina só, como pode a FSSPX permitir que um sedevacantista assista suas missas?!?!” Sim, eu mesmo já recebi esta reclamação de gente indignada porque um sedevacantista estava assistindo missa na FSSPX. Como se fosse um escândalo ser sedevacantista.

“Sedevacantistas e neo-conservadores são os dois lados da mesma moeda porque acreditam que o papa é sempre infalível”. Somente porque ambos reconhecem que um verdadeiro papa não pode cometer erros contra fé no exercício de seu magistério, isto não quer dizer que se equivalam. Muito pelo contrário. As conclusões são diametralmente opostas. A frase feita é tão ridícula que seria como se alguém dissesse, “católicos e protestantes acreditam que somos salvos por Cristo, logo ambos são dois lados da mesma moeda”. Imagem só, se quaisquer teorias que tivessem algum ponto em comum fossem dois lados da mesma moeda. Esta é a típica propaganda completamente vazia de sentido, mas que assusta os principiantes e os mantém afastados do sedevacantismo.

“Não se abandona um pai que esteja nu ou bêbado pois ele não deixa de ser pai”. Aqui se confunde uma questão de direito com uma questão biológica. A paternidade biológica jamais pode ser desfeita, por pior que seja o pai. Já uma questão de direito pode ser desfeita. Um pai pode perder a guarda sobre os filhos, por exemplo. Se um papa abdica tacitamente do pontificado pelo crime de heresia, então isto se trata de uma questão de direito, não de biologia. A comparação com o pai biológico é fraca demais, mas vez ou outra oa encontramos como se fosse verdadeiro argumento.

(continua)

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